quinta-feira, 21 de maio de 2009

BC compra US$ 1 bi e freia queda do dólar

Volumosos ingressos de capital obrigaram o Banco Central a intervir pesadamente ontem no mercado de câmbio à vista. Se não tivesse comprado para valer, dificilmente a moeda teria fechado acima de R$ 2,00. Pelas contas dos operadores, no leilão feito às 15h30, o BC retirou
US$ 1,16 bilhão, quase o que havia comprado (US$ 1,22 bilhão) nos oito leilões anteriores realizados em maio. Mesmo assim, a moeda fechou ontem em baixa de 0,39%, cotada a R$ 2,0270. Em maio já acumula desvalorização de 7,06%. De acordo com operadores de bancos, o fluxo foi inesperadamente positivo ontem. Os dólares foram procedentes tanto de exportações
quanto de investimentos estrangeiros em Bolsa e renda fixa. O giro de negócios no interbancário foi de US$ 4,3 bilhões. O forte ingresso de capital coincidiu com informação dada em teleconferência pela agência classificadora de risco Moody's. Seus analistas asseguraram que dois
países da América do Sul, por sua capacidade de resistir aos choques desferidos pela crise internacional - o Brasil e Peru - são potenciais candidatos a uma elevação de notas. A agência americana está atrasada em relação à Standard & Poor´s e à Fitch Ratings, que já concederam o
grau de investimento ao Brasil. A Moody's ainda insiste em nota um patamar abaixo. E vem avisando ao mercado que fará a correção em breve. Analistas dizem que a decisão já está no preço da taxa de câmbio e não se vincularia às entradas feitas ontem. Pode eventualmente ser
usada por especuladores para puxar a cotação para aquém dos R$ 2,00 se ficar difícil fazer isso até lá. Com ou sem Moody's, os R$ 2,00 devem ser testados logo. O preço mínimo de ontem foi de R$ 2,0140 e o BC comprou a R$ 2,0188. Duas notícias tiveram influência sobre a taxa de câmbio. Uma puxou para cima. A outra para baixo. Não foi somente o BC brasileiro que
evitou uma queda maior. O Federal Reserve (Fed) também ajudou. Na ata da sua última reunião de política monetária, revisou para cima a estimativa de retração do PIB americano este ano. Agora espera queda de 1,3% a 2%. Isso esfriou os investidores e ampliou a aversão ao risco, tanto que as bolsas caíram e o excesso de demanda acarretou baixa dos juros dos títulos de 10 anos
do Tesouro americano. Eles cederam de 3,2450% para 3,1850%. A notícia que ajudava a empurrar o dólar para baixo foi doméstica, relativa ao fluxo cambial. Ele está, no mês, até o dia 15, positivo em US$ 2,059 bilhões. Trata-se do maior superávit acumulado desde setembro
do ano passado (US$ 2,803 bilhões). O saldo supera o registrado nos dez primeiros dias úteis do
mesmo mês de 2008, de US$ 1,477 bilhão. Com este superávit, o saldo no acumulado do ano passa a ser positivo, com as entradas ultrapassando as saídas em US$ 516 milhões. Depois de 14 meses amargando déficit, o fluxo financeiro exibia entrada líquida de US$ 1,4 bilhão no mês.
Auxiliam a segurar o dólar acima dos R$ 2,00 as posições à vista mantidas pelos bancos. Até o dia 15 as posições compradas das instituições estavam em US$ 2,094 bilhões. Elas foram formadas a um preço alto. No final de março, detinham caixa comprado de US$ 145,2 milhões. E decidiram ampliálo para US$ 1,26 bilhões em abril, com taxas de câmbio oficiais oscilando entre R$ 2,17 e R$ 2,28. Este mês, até o dia 5, aumentaram a posição para US$ 2,075 bilhões. No mercado futuro de dólar da BM&F, os investidores estrangeiros trataram de aumentar ao longo do mês sua posição vendida. Iniciaram maio com 10.412 contratos vendidos liquidamente em dólar futuro, o equivalente a US$ 520,6 milhões. Na última posição conhecida, referente ao dia 19, o caixa futuro vendido se elevava para 47.194 contratos, o correspondente a US$ 2,36 bilhões. O posicionamento total dos "hedge funds" - que além do dólar futuro inclui o pregão de cupom cambial -, ainda está comprado, mas a posição vem caindo rapidamente. Cedeu de US$ 2,423 bilhões no dia 15 para US$ 1,912 bilhão no dia 18 e US$ 1,251 bilhão no dia 19, e pode ter
zerado ontem. A derrocada do dólar atua para intensificar a direção de queda já assumida pelo mercado de juros futuros. O CDI previsto para o fim do ano caiu de 9,29% para 9,26%. O swap de 360 dias declinou de 9,36% para 9,32%, e projeta agora juro real de 5,09%, para uma expectativa Focus de IPCA para o mesmo período, de 4,03%.

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