segunda-feira, 25 de maio de 2009

O resgate da Credicard - Tradicional marca de cartões passa a ser a financeira do Citibank e prepara o relançamento do Diners no mercado brasileiro


Não estranhe se você passar por uma região de grande circulação de pessoas e vir uma loja de financiamentos Credicard. Antes de perguntar o que a velha conhecida do mercado de cartões está fazendo ali, repare no recado colado na porta: "Essa continua sendo a sua CitiFinancial, mas com a nova marca Credicard." A estratégia faz parte do resgate que o Citibank está promovendo na marca, depois da saída dos seus antigos sócios Itaú e Unibanco do negócio. O banco agora empresta o prestígio de quatro décadas nos cartões de crédito para a financeira do grupo. As 100 lojas CitiFinancial, em 21 Estados brasileiros, já ganharam as placas da Credicard. A meta é quadruplicar a carteira de empréstimos aos consumidores, passando dos atuais R$ 600 milhões para R$ 2,5 bilhões em três anos. "Seremos líderes em financiamentos em 2012", diz o presidente, Leonel Andrade.
Para isso, a financeira Credicard terá que enfrentar concorrentes de peso. Todos os bancos estão revendo suas estratégias para o segmento de empréstimos ao grande público. A Losango, do HSBC, enxugou suas lojas próprias e passou a se concentrar em quiosques dentro de algumas redes varejistas. Após a fusão com o Unibanco, o Itaú baixou as portas da Taií e vai concentrar seus esforços na Fininvest. E a Finasa, do Bradesco, está se voltando especificamente para o crédito automotivo. Em momento de mudança, quem estiver mais bem preparado consegue obter melhores resultados. A confiança de Andrade vem justamente desse preparo. Ele, aliás, é um especialista. Trabalhou sete anos na Losango, sendo dois como presidente. Desde o final de 2006, quando chegou ao Citigroup, Andrade passou a acertar os ponteiros da Credicard, olhando apenas para dentro de casa, enquanto não podia explorar o potencial da marca. Treinou a equipe e definiu a maneira de conquistar o seu espaço nessa briga. "Precisamos aproveitar esse momento a nosso favor", afirma Andrade. Seu alvo são os clientes que necessitam de empréstimos de R$ 4 mil, em média.
Com tentativas anteriores frustradas de entrar no varejo bancário, o Citi parece ter aprendido a lição. Terá mais cautela nas sinergias com a Credicard. Os clientes que pisam na financeira não são alvo do banco. "Ninguém pode buscar cliente em financeira. O foco é diferente", conta Andrade. A lógica é que quem tem dívida não está feliz e pode, no máximo, sair aliviado. Forçar a venda de outro produto financeiro é matar um negócio futuro. Pelas contas da financeira, 70% dos que tomam esse tipo de empréstimo fazem um segundo. Da mesma maneira, os negócios da financeira não serão ligados ao cartão, que no total conta com seis milhões de portadores. Até 2010, a carta de produtos de crédito estará completa. Automóveis, pessoal, consignado, refinanciamento de dívida e, por último, imobiliário. O apetite do banco nesse negócio é tamanho que afasta de vez qualquer fantasma da crise que afeta a matriz e o sistema bancário dos Estados Unidos. Aqui, a ordem é investir.

Nos dois longos anos da separação do Citi e do Itaú na Credicard, o marketing foi deixado de lado. Para recolocar a marca novamente no alvo serão investidos R$ 200 milhões neste ano. Os cartões já começaram a aparecer na semana passada, com o lançamento de um plástico que gera bônus após compras em supermercados. Atualmente, são seis milhões de cartões e uma carteira de R$ 5 bilhões. A partir de 2 de junho, o segundo passo nesse novo momento da marca será dado. O relançamento da bandeira Diners, que parecia esquecida nos últimos anos. Há duas semanas, Andrade esteve em solo americano conversando com os executivos do Discover, um emissor de 50 milhões de plásticos nos EUA, que detém a marca. O Citi tem a exclusividade de continuar gerindo o Diners no País até 2016, com renovação automática de contrato. São apenas 300 mil clientes ativos no Brasil, mas que são considerados o filémignon da Credicard. Eles têm o melhor perfil de gasto e o menor nível de risco. A repaginação irá manter os mesmos serviços, como as 130 salas vips nos aeroportos mundiais, e acrescentar novos benefícios, como o acúmulo de 1,5 milha para cada dólar gasto. "A marca envelheceu, mas continua respeitada", diz Andrade.

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