quarta-feira, 3 de junho de 2009

As lições de Warren Buffett, o oráculo de Omaha


As lições e o jeito simples tornam Buffett um ícone dos mercados. Aos 78 anos, o "oráculo de Omaha" fala e os mercados escutam. Qualquer decisão por ele anunciada, por si só, já parece garantir o retorno para a Berkshire Hathaway. Buffett fala, os mercados assumem.
Mais do que um caso de sucesso, a vida de Buffett é uma lição valiosa. Seus valores, ideias e iniciativas ultrapassam as cifras que conquistou na bolsa. Desta vez, Personagens do Mercado conta uma história de vida.


Os primeiros passos desde criança mostrava extrema habilidade com números. Fazia diversas operações matemáticas de cabeça, o que chama atenção até hoje. Uma das frases mais conhecidas de Buffett já se aplica ao seu primeiro investimento. "A primeira regra é não perder dinheiro. A segunda regra é nunca esquecer a primeira regra".


Conta-se que aos seis anos, Buffett, que era filho de um operador de mercado, comprava garrafas de Coca-Cola na venda de seu avô e as revendia com pequeno ágio. Seu primeiro contato com a bolsa, no entanto, veio através da companhia Cities Service. Aos onze anos, Buffett comprou três ações preferenciais da empresa, por US$ 38 cada.


Seu primeiro investimento em ações, que havia sido realizado em conjunto com sua irmã Doris, parecia ir por água abaixo. Logo após a compra, o valor das ações caiu para US$ 27. Sem esquecer sua primeira lição, Buffett revela a segunda já aos onze anos. Esperou, até vender suas três ações a US$ 40 cada. Paciência é uma virtude também nos investimentos. Ainda assim, Buffett parecia jovem demais para perceber que o papel tinha potencial para chegar a US$ 200, como chegou.


Paciência

O caso da Cities Service foi apenas uma introdução do que seria o perfil de investimento de Warren Buffett: foco voltado ao longo prazo. O próprio Buffett chegou a confirmar que analisou o balanço da Anheuser-Busch por 25 anos antes de comprar a ação da empresa.
No momento em que a comprou, não se importou muito em avaliar o preço que estava pagando, afinal, seus esforços se baseavam de maneira geral na análise do que estava comprando. "Compre uma empresa, não uma ação."


Contato com o Value Investing

Mas Buffett saberia como ninguém adquirir ações também por preços atrativos. Sua maneira de administrar períodos de crise lhe rendeu boa parte de sua fortuna. Voltando à importância de se ter paciência, Buffett chega a esperar anos para comprar uma ação abaixo de seu valor intrínseco.
Esta ideia remete a seu mentor, Benjamin Graham. Voltando à sua história, aos dezessete anos Buffett se formou no ensino fundamental e partiu, por vontade de seu pai, para uma faculdade. Após cursar dois anos na Universidade da Pensilvânia e largar os estudos, tentou ingressar em Harvard. Foi rejeitado, considerado jovem demais. Partiu para a Universidade de Columbia, onde teve contato com Graham.
Apesar de sua vocação natural, os ensinamentos de Benjamin Graham podem ser considerados como ponto crucial para a história de Buffett nos investimentos. Ao conhecer os conceitos do value investing, passou a segui-los à risca. Aos 21 anos, Buffett foi acompanhar Graham também em sua empresa, após muitos esforços para conseguir o tal emprego na Geico, que muito depois viria a ser comprada pela Berkshire Hathaway.


Buffett Associates

Entre as diversas lições deixadas por Buffett, uma vai contra um princípio comum a alguns investidores. Buffett preferia alguma concentração dos investimentos, não optando por uma total diversificação. "Uma diversificação ampla só é requerida quando os investidores não entendem o que estão fazendo".
A partir das próprias experiências e do conhecimento adquirido com Graham, passou a voar sozinho. Em 1956, criou a Buffett Associates, junto com suas irmãs e outros parceiros. A pequena companhia conseguia, em seus primeiros anos, um retorno próximo de 250%, em um intervalo que o índice Dow Jones havia acumulado valorização de 74%.
Buffett se tornou celebridade em sua região. Ainda assim, sempre se negou a oferecer qualquer dica de investimento a seus amigos, quando solicitado. Sempre reconheceu a importância dos ensinamentos do mentor Graham.


Berkshire: de US$ 10 a US$ 92.000

Com 35 anos, Buffett finalmente chegou ao controle da Berkshire Hathaway, uma empresa do ramo têxtil que também vendia seguros. Buffett considerava a administração da companhia muito fraca no momento, e acumulou 49% de suas ações ordinárias para se autodeclarar diretor.
Na ocasião da aquisição, as ações da Berkshire Hathaway valiam menos de US$ 10 cada, isto em 1965. No fechamento da última segunda-feira (18), as mesmas ações valiam US$ 92.000 cada. Hoje, a Berkshire se tornou uma holding que possui participações importantes em companhias como Coca-Cola, Gillette, American Express, Conoco Phillips e, recentemente, bancos como Wells Fargo e Goldman Sachs.
Em 2007, Buffett confirmou em sua carta aos acionistas que o único investimento que a Berkshire vinha mantendo em moeda estrangeira era no real, desde 2002. Naquele ano, a divisa norte-americana se desvalorizou em cerca de 17% ante a brasileira. Os investimentos em reais renderam aproximadamente US$ 2,3 bilhões a Buffett.


O mesmo de 50 anos atrás

Além de sua estratégia de investimentos, Buffett chama atenção por seu estilo de vida. Apesar de bilionário, mantém muitos dos costumes de sua juventude. Ainda mora na cidade de Omaha, na mesma casa adquirida 50 anos atrás, por aproximadamente US$ 31 mil. Aos 78 anos, afirma que deixará de herança a seus filhos o necessário para que façam o que quiserem, mas façam alguma coisa. Buffett se comprometeu, em 2006, a doar aproximadamente 85% de sua fortuna para a Fundação de Bill Gates, o que representa o maior ato filantrópico da história.
As histórias de Buffett fazem um mercado sofisticado para muitos parecer simples. Entre tantas estratégias, a visão do oráculo de Omaha lembra do conceito clássico de investimento, de buscar valor, de focar o longo prazo.
Os números falam por si. Em 2008, Buffett perdeu aproximadamente US$ 25 bilhões com a crise internacional. Sem este dinheiro, ainda é considerado o segundo homem mais rico do mundo e o investidor mais bem sucedido de todos, com uma fortuna estimada em US$ 37 bilhões [dados de 2009 da Forbes].

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