sexta-feira, 5 de junho de 2009

"Economia do Brasil não vai andar de lado", por Delfim Netto


Mesmo que a economia mundial "ande de lado" nos próximos anos, como preveem muitos economistas que têm sérias dúvidas sobre a capacidade de recuperação americana, não creio que a economia brasileira esteja condenada a ter níveis de crescimento medíocres no médio ou longo prazo. Estimativas respeitáveis apontam para uma saída lenta da recessão nos países desenvolvidos e a volta da expansão da economia global a partir de 2010 de forma ainda bastante lenta. No Seminário Internacional dos 15 anos da revista Carta Capital, em São Paulo, o professor Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, por exemplo, disse acreditar que o crescimento mundial será muito pequeno nos dois anos a partir de 2010.


Suas estimativas são muito respeitadas. Afinal, ele previu com razoável antecedência a quebradeira dos bancos e das financeiras no curso da especulação das hipotecas americanas. Não tenho motivos para discordar dessas avaliações quanto à economia global. Vai demorar muito para que o mundo volte a viver uma expansão robusta como a dos últimos 10 anos e isso obviamente conterá a velocidade de crescimento dos países. Quanto ao Brasil, tenho excelentes motivos para acreditar que já no último trimestre deste ano estaremos com a economia em recuperação e em condições de voltar a crescer robustamente (entre 3.5% e 4%) em 2010.


Isso já nos colocará num nível de crescimento acima da expansão mundial no próximo ano, podendo continuar nos anos seguintes sem maiores problemas, na medida em que superarmos as ameaças de crise energética ou de dificuldades de financiamento externo. Insisto em que isso é uma crença, pois ninguém tem condições de garantir paz, tranquilidade e juízo ao mundo. O que nos dá segurança é o fato de que o Brasil hoje depende muito menos do exterior para crescer. O País depende, isso sim, de seu mercado interno, que se robusteceu de forma extraordinária nos vinte e um trimestres seguidos de crescimento desde o terceiro trimestre de 2003.


Em que pese a queda do ritmo de expansão a partir de setembro do ano passado, nos dois trimestres seguintes a economia não entrou em recessão e o desemprego foi contido. O potencial de crescimento da economia brasileira não diminuiu por causa da crise. Somos quase 200 milhões de habitantes num mercado de consumo com renda para sustentar um nível de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) importante, sem voltar a depender excessivamente da demanda externa.


Superamos aquela fase em que o Brasil só conseguia crescer durante os ciclos de expansão da economia mundial. Hoje temos a contrapartida de uma indústria altamente diversificada, apta a abastecer um mercado interno que cresceu nos últimos anos graças aos programas de combate à miséria, à redução da pobreza e principalmente ao aumento da renda salarial durante o Governo Luiz Inácio Lula da Silva. Sem esquecer a expansão do crédito facilitado, nos anos recentes, que garantiu o aumento do consumo de alimentos e dos bens das indústrias que respondem pela sustentação dos níveis de emprego.

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